Seria o amor
ainda possível? Mesmo depois de tê-lo matado de todas as formas que tinha sido
pré-concebido, e abrir mão de certos luxos que poderia ter só para me
satisfazer por alguns instantes? Estar-se conectado a todos, sem saber como fazia
para perceber a parte minha que se sentia só? Revirava-me em idiomas,
escrevendo no meu próprio. Imaginando se a profecia do fim após um poema também
poderia ser quebrada. Quase reunidos em matrimônio, dei um jeito de arranjar
uma casa distante, dentre as árvores, onde pudéssemos ir para se esconder; como
uma pílula que te fazia sentir melhor, você me tomava todos os dias antes de ir
dormir, se encaminhando para o seu mundo paralelo, onde o tempo passava
diferente, e em contato com os seres, pedias amparo a mim.
O
autoconhecimento foi usado contra mim. Não existia a compaixão, nem o ser, até
me permitir reconhecer e entrar em contato com estes. Porém, a espera e a
ansiedade, baseadas na fantasia da minha realidade, estavam presentes como
espectadores que faziam questão de opinar na representação da ilusão das
personagens, que se misturavam e se confundiam; todas queriam ser
protagonistas. Decoravam suas falas, que lhe serviriam de argumento para provar
sua importância, e seguiam falando, mesmo quando caladas. Nunca, tantos atores
apareceram para fazer parte, mesmo que de figurantes, nessa peça. Eles
insistiam em aparecer mesmo depois de terem recusado o papel, se tornando
esquecido, mas ainda ligado com a história. Afinal, todos podiam ler o roteiro,
e mesmo que quisesse que não fosse, aquela como tantas outras, era uma história
previsível, podendo haver intervenções do diretor, que era conhecido como
arquiteto do destino que lia as estrelas, fazendo assim com que o inesperado
acontecesse. Vivia conscientemente aquilo que poderia ser uma mentira ou uma
história mal contada, retorcida. Mesmo com tantas outras preocupações, e o
nervosismo de esquecer o texto, seguíamos caminhando, entre desencontros pela fronteira.
Qual seria o significado do silêncio entre os intervalos de um diálogo e outro?
E o que se passava no pensamento, ou nas emoções e sentimentos, poderia
interferir nas palavras do que viria a ser resposta?
Se esperávamos o
melhor, deveríamos fazer o melhor, e não queria criar expectativa caso perguntassem
por onde eu tinha estado. A memória não tinha imagens, e eu ficava revivendo o
pouco que me lembrava da tua figura; quase que me apoiando a isso quando não emitíamos
ondas de notícias. Querendo e permitindo diversos olhares, e dessas maneiras de
olhar, a construção da realidade, que nos intervalos era preciso usar da mentira
a si mesmo para contar verdades já sabidas. Íamos formando constelações, com
células de infinitos, individuais que se tornavam coletivas. Já havia dito que
no meio disso tudo, não tinha dúvida e nem medo do que sentia quando me conectava
com alguém, podendo-se dizer ser a única coisa que não temia.
Não coloque o
sofrimento como uma consequência, nem receie por mim. Para ser marcante é
preciso mais do que uma frase de efeito. Por isso entro com a minha pura
energia. Assim não são rótulos que vão me definir ou limitar. Apenas um
envoltório carnal. Todos têm essa vontade de ser perfeito. Não era isso o que
nos ligava. A beleza nunca me foi simpática, sendo sempre invisível na cadeia
alimentar, sem conseguir ser, nem que quisesse, preferi não tentar nada para me
proteger da decepção. Com a arte da luta aprendi a defender meu coração,
abafando minha intuição, e com o desejo de vida e de morte, promovi minha
própria aniquilação em estágios homeopáticos. Não concordo com o proclamar de problemas,
contudo, quando perguntam de ti, não sei o que responder, então acabo vomitando
blasfêmias, se é o que querem ouvir, qualquer coisa, simplesmente digo.
Deveria eu
acreditar nas suas atitudes ou nas suas palavras? No que se mostra ou na minha
intuição? Nas previsões de um espelho quebrado ou no amor diluído com o tempo,
ou na distância de uma ligação para alegrar os meus dias ou noites? Continuar
agindo sem ser natural para forçar uma aptidão que talvez me tenha sido
concedida, ou acordar acreditando que não viverei sem meus medicamentos? A
loucura vai tocando aos poucos com o seu acorde visceral, enquanto conhece
todos os meus segredos revelados, minhas palavras passando pela minha mente sem
ela se dar conta que podem não fazer sentido algum se colocadas em gavetas.
Talvez mais questionamentos do que respostas. Do jeito que eu gostava que
fosse. Negando desejos de sexo e de como faço com que as relações deixem de ser
mentira, para me tornar o culpado enquanto os amantes resolvem se manter
unidos, e deixar com que esse lapso de lembrança seja apenas passado.
Se
eu fosse contar as vezes que penso em você e me perco cercado por seu amor
poderia soar que eu sou um tolo, mas eu prefiro ser um a tentar controlá-lo,
perdendo-me na minha mente misteriosa, onde tudo é tão óbvio e preconcebido em
fracassos e decepções. Eu prefiro ser e acredito no amor. Você é de verdade ou
estou dormindo? Eu não lhe pediria nada parecido com a fidelidade. Você poderia
tocar meu corpo até que soassem notas e eu fosse a melodia. Não me atreveria a
perguntar se estávamos sonhando, porque era lá onde fazíamos amor. Eu não podia
parar de pensar sobre o seu corpo e seus braços ao meu redor. Nós não somos
apenas humanos e podemos dançar mesmo sem asas. A única coisa que eu posso ser
é um trovão permanente em seu céu, causando uma nova canção. Fico imaginando
que tudo isso está tão longe do espaço que seria permitido para a nossa matéria
transcender os limites de ambos. Eu não ousaria, a este ponto, esperar por algo
menos do que isso ou até mesmo expressar com palavras limitadas o quão imenso
sinto a cada momento que percebo como as perguntas são dissolvidas e me torno o
que eu posso ser e compartilhar. Apenas a razão simplesmente poderia querer
colocar regras para o que pensam ou sentem e levar-nos a acreditar que algo é
classificável. Somos eternos e isto é o suficiente.
Existem
coisas que a gente ganha com a maturidade consciente. Algumas visíveis, outras
ocultas. Todas as experiências são únicas e de tudo pode se aprender, deve
haver um motivo. Quando se chega a um patamar tão alto, sem expectativas ou
cobranças, não podemos oferecer menos do que isso para nós mesmos. Aprendemos
com os erros, que se fazem necessários para termos compaixão, principalmente
com nós mesmos. Em um momento foi possível sentir o que nem as palavras
poderiam dizer. Querendo viver aquilo, sem saber se seria com técnica ou não. A
minha verdade foi entregue a nós mesmos, e a quem quisesse. A arte se imortalizou
no momento de um tempo, pois alcançou algo superior do que já havíamos sentido.
Os sonhos são apenas espaço, o tempo passa sem perceber. Até mesmo as horas
diminuíam a distância entre elas para que no mistério do silêncio e da solidão
exterior reconhecêssemos o que se passava por dentro. De um caminho vazio, onde
o corpo reclama o amanhã. Eu viveria tudo isso e mais ao seu lado, como o tenho
feito. Sua presença me ilumina e me faz querer viver e acreditar em todas essas
explosões que acontecem de todas as partes do meu ser. Pode ser uma imagem que
criei, ou uma indagação se é mesmo recíproco. A única coisa que podemos
apreciar com a amplidão do despertar é a individualidade. Isso ao mesmo tempo
em que nos acrescenta nos engrandece. Agradeço aos que iluminam meu caminho
para que eu possa enxergar agora. Porque é normal ficarmos cegos a maior parte
do tempo, isso faz parte do ser humano. Mas nada pode ser confirmado uma vez
que já é.