quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Conversa com Bruno

-Não sei qual magia branca você fez, mas já pode desfazer. Vira e mexe você está em meus pensamentos. Tenho pensado com carinho. Na verdade dobrei minha medicação. E existem uns métodos alternativos que envolvem choques e lobotomia. A planta nasceu, mesmo com tanta energia negra em torno dela, guerreira como o pai, carrega isso porque possui a esperança na semente. Foi uma das poucas coisas que plantei e brotou. A Luz no meio das trevas. Não sei como seria sem ter. Conviver com leões é tenso e perigoso, você acaba sendo vítima da natureza hostil deles. Nem tudo são trevas. Existe sempre uma chama que agoniza no pior dos corações.

-Prometo marcar um café para você parar de pensar em mim. Pode ser algo entalado que queira me dizer ou dar na minha cara. Mas vou marcar para ajudar você nesse sentido. Só não bate muito forte. Minha bondade é muito grande. Às vezes caminhos se cruzam. Outras seguem juntos. Outras nunca se cruzam. Mas deixam de cruzar em algum momento. Tudo é um caminho sem fim. Conclusão remete a um destino que não existe nesse caminho. Sem rumo ou conclusão definida. Aceitar sem angústias, daí da humanidade em tentar entender o sentido da vida. Não é jogo de azar. Chance é só uma forma covarde de enxergar opções. Existe uma infinidade de opções. São escolhas. Milhões de coisas para viver. Chance remete a certos e errados onde eles não existem. São apenas caminhos diferentes. Não existe caminho errado. Existe o seu caminho.

-Tirando a mudança que já é grande coisa, tudo na mesma desordem de sempre. Otimismo não é bem meu forte. Mais para realista. Não deixo de enxergar a realidade amarga das coisas, o caminho vai fazendo tudo ficar exposto, até o que adoraria não ver. Ignorância e cegueira são dádivas que não possuo. Nascemos ingênuos, algo puro e belo, mas não sonsos. Ninguém nasce sonso, a desnaturação da ingenuidade, corrompida pela esperteza. Algo triste de ver, amargo de provar. Uma realidade nada agradável do mundo moderno; é cafona ser ingênuo e mandatório ser esperto. O ser humano sendo vítima da própria sonsice.

-Não sou ingrato de abandonar quem me ama. Até porque o amor tende a unir caminhos. Então entra a aceitação do outro, pois cada um segue o caminho que escolhe ou que deve seguir. Maturidade me arrebenta como uma obrigação. Tudo me leva a reflexão. É só o que tenho a fazer. Observar. Mas cuidado com o que vê, por vezes machuca. Crescimento é um clichê para alimentar suas frustrações. Apenas viva e tome suas próprias decisões. Livre.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Proximidade

Eu me sinto só. Um vazio enorme. Isso foi o que a proximidade fez. Me sentir pertencido na casca que se formou impedindo de externar sentimentos. Cada vez o contato com o outro é mais longe. Sinto que não tenho forças para abraçar, já que meus ombros não sustentam bem os meus braços. A flexibilidade se foi, dando espaço para rigidez dos músculos. Onde foi parar o meu ser? A rejeição que existe arraigada ao meu ego não permite enxergar nada além. Não deve ser fácil viver na pele do outro, mas já não suporto ser tudo sobre mim. Eu não tenho culpa. Sou sempre a vítima. Me deparo cada vez mais com a realidade. Ser frio e ter uma sinceridade ácida parece ser mais atraente nesses dias em que o frio toma conta não só da natureza, mas também do coração. Basta a aceitação para que tudo seja liberto?

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Escrever

Eu sei de onde vem essa vontade de escrever. Do que surge de dentro do meu ser quando estou em silêncio. Dessa voz que quero apagar. Do apertar em meu coração do que deseja desabrochar. De tantas palavras que insistem em não serem ditas. Ninguém consegue viver no vazio do silêncio sem ao menos escutar o que existe lá. Foram influências gigantescas de artistas que não souberam lidar de outra forma, com o que chamamos de solidão. Milhares de vidas inspiradas, que inspiram, para que cheguemos aonde estamos. A intuição continua acesa, mesmo quando não somos capazes de sentir. A vida nunca morre para quem consigo carrega o amor.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Conversa de Plantas


As mensagens que você enviar para esta conversa e chamadas agora são protegidas com criptografia de ponta-a-ponta. E você tem que prometer cuidar da semente que te dei. Quero ela feliz. Diz no pacotinho que demora vinte dias para sair o broto. Mas você tem que dar água e carinho sempre. Todas as outras plantas vão ter ciúmes por ela ser a única que tem nome. Ops, emoticon errado. Você vai gostar de mim se me transformar? As pessoas têm que ser quem elas são, esse é o segredo para o outro gostar de você, eu acho. Quero ser, preciso viver como lembrança. Mas se precisássemos viver só por dentro não estaríamos aqui. Nada te excluí de fazer parte e ser a manifestação divina na Terra. Quem pode responder é você mesmo. Alguns enxergam e outros não, e enxergar é ótimo. Talvez não seja o caminho mais fácil, e isso é uma questão de perspectiva, mas te tira da inércia. Não sou eu, é você. Você só pode enxergar aquilo que possui. Foi um esbarrão, mas nada acontece por acaso. E eu me perguntava do porquê deste acaso, mas as coisas se desenrolam sem questões. Leve o tempo que precisar. Aqui não estamos imunes ao tempo. Não existe só uma energia em ti. Quantas vezes você me conheceu?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Miguel


Eu vou mentir se não disser que eu pensei em você praticamente todos os minutos das últimas vinte quatro horas. Que as últimas semanas separaram o que eu fui do que eu sou. De lições práticas de como eu posso ser melhor sendo eu mesmo. De coisas que eu poderia ter feito diferente para que nada interferisse no que acontece no presente. Das palavras que acreditei serem lançadas sem intenção, mas que criaram monstros que me sufoquei. Da expectativa que crio a cada segundo. Das frases que não queria colocar juntas para que um poema não fosse o ponto final. Para que durasse para sempre.
Eu vou mentir se não disser que comentários foram tecidos em relação ao valor que esse amor custaria. Que fui encarado como imprudente, pelo pouco tempo e pela distância. Como se pudesse comprar algo que apenas o coração pode sentir.
Eu vou mentir se não disser achar ser natural tantos conflitos quando encontramos alguém que veio não apenas para te mostrar o que é romance. Que te coloca de frente com tudo o que precisa ser lidado. Que eu chorei. Porque a saudade pareceu ser maior do que meu coração poderia aguentar. Que sonhei com uma mensagem sua. E me surpreendi quando recebi tua ligação.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Carne


Somos um amontoado de carne. A carne do prazer. São milhares de prazeres para se fugir da realidade. Nada disso se satisfaz. O desejo continua crescendo e se tornando maior. Até que te toma. Te seduz e te leva para um lugar onde apenas os solitários vão. Onde ninguém pode te odiar mais que você mesmo. É esse lugar onde me encontro. Sem ambição. Com mil desejos para serem saciados e que nunca serão. O presente não existe e só se pode dar atenção ao que não está ao alcance.  Tudo o que se tem a dizer é adeus. A música soa boa. E até o delírio parece ser real. O passado continua presente, te perturbando. Nos sonhos. A carne não se aguenta dentro de si, ela quer reproduzir. Esse é o meu tormento. Não estar apto a esperar pela carne certa que virá. É uma celebração à morte. Que nunca acaba. Esse não é o pecado. O pecado é perder-se em si mesmo. Um ser de letras que erra por um acento. E que ouve os outros sem se colocar no seu lugar. Dando conselhos inteligentes para tolos. Afinal, quem não poderia enxergar esse casamento que está próximo a se acabar? Era para ser uma família. Que dorme no chão do corredor. Desde que partiu. Onde um maço não é suficiente para saciar sua vontade de fumaça e cinzas. E acredita que tomar um copo de água vai poupar seu fígado contra a bebida.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Ame, mas não dê o seu coração a qualquer um

Seus olhos baixos enquanto um sorriso meu se manifestava estampado por segurar sua mão. Seu sorriso acanhado quando encontrava meus olhos. Eu escalei um muro que desabou quando eu poderia ter caminhado para dar a volta e ver o que se encontrava do outro lado, seguindo a rota. Um encontro de almas que desperta questões que não se sabia estarem escondidas. Do quão sozinho se sente por ter se perdido em si. De desconcentrar do seu dever. De afinidades que se encontram em momentos não esperados. Onde mãos e pés de tão desenhados, tomam forma para se finalizar a composição do corpo de um ser que de tão tímido se forma em volta uma nuvem de mistérios. Pois as estrelas não podem ser vistas em dias chuvosos. À claridade de uma noite onde o toque encontra a pele e os relevos das tatuagens são revelados. Que entre suor possa-se ver uma vez mais o que de um momento para outro passou-se a admirar, e o encanto não é uma coisa que se ganha. Ame, mas não dê o seu coração a qualquer um. Salve a última dança para mim.