Somos
um amontoado de carne. A carne do prazer. São milhares de prazeres para se
fugir da realidade. Nada disso se satisfaz. O desejo continua crescendo e se
tornando maior. Até que te toma. Te seduz e te leva para um lugar onde apenas
os solitários vão. Onde ninguém pode te odiar mais que você mesmo. É esse lugar
onde me encontro. Sem ambição. Com mil desejos para serem saciados e que nunca
serão. O presente não existe e só se pode dar atenção ao que não está ao
alcance. Tudo o que se tem a dizer é
adeus. A música soa boa. E até o delírio parece ser real. O passado continua
presente, te perturbando. Nos sonhos. A carne não se aguenta dentro de si, ela
quer reproduzir. Esse é o meu tormento. Não estar apto a esperar pela carne
certa que virá. É uma celebração à morte. Que nunca acaba. Esse não é o pecado.
O pecado é perder-se em si mesmo. Um ser de letras que erra por um acento. E
que ouve os outros sem se colocar no seu lugar. Dando conselhos inteligentes
para tolos. Afinal, quem não poderia enxergar esse casamento que está próximo a
se acabar? Era para ser uma família. Que dorme no chão do corredor. Desde que
partiu. Onde um maço não é suficiente para saciar sua vontade de fumaça e
cinzas. E acredita que tomar um copo de água vai poupar seu fígado contra a bebida.
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