quinta-feira, 13 de março de 2014

Monólogo de uma relação entre animais

Onde eu estava para chegar ao ponto de se perder de mim? Já havia me perdido em ruas desertas e estradas que não tinham fim, mas nunca em labirintos tão vastos. Inventei instrumentos, tive de usá-los para recriar. Usei corais de vozes para que ecoassem no universo e me trouxessem de volta alguma resposta. Uma ilha deserta interminável cheia de ancestrais foi o que achei, antes mesmo que voltasse a dormir. O céu tinha me dito que tudo ao redor me faria duvidar. O universo não estava nem lá; então veio a luz, o som e a matéria para que o mundo se tornasse o que conhecemos. Tornou-se cada vez mais alto e menos audível. Dentro de mim, cristais cresciam e era possível ouvi-los. Equalizando a generosidade. Subestimando até mesmo o silêncio. Octógonos, polígonos e cristalizadores de galáxias. Eternos em suas vozes. Cheios de certezas e barulhos. Atirando em tudo que vinha à sua frente. Destruidores de rotina. Solitários. Acabando tudo em cinza; defumando os dormitórios de dentro daquilo que podia se chamar de alma. Sincronizando a agonia e o medo, por acidente. Com órgãos sendo tocados por mãos que nunca antes tinham sido tocadas. Estranhamente escolhidas para aquela ocasião. Um amargor por descer tão fundo. Foi a tragédia de ver no rosto como contava aquelas histórias de maneira tão própria e tão particular. Uma estátua pronta para ser destruída se descobrisse a verdade que existia em tudo aquilo. Um mecanismo para repetir tudo da mesma forma. Conforme as fases fossem passando e pigmentando o céu com as estrelas. Como se eu já não tivesse visto tudo antes e não pudesse imaginar como tinha sido feito. Não havia presenciado sua figura, mas podia desenhá-la mesmo assim. Cheia de curiosidades e manifestações. E mesmo que eu pudesse deixar ser destruído, eu preferi costurar e manter tudo escondido, sabendo que você faria questão de desbordar para ver o que havia lá dentro, o que já na verdade sabias. Eu já havia entendido que era tudo seu. Queria que eu participasse, mas de forma superficial das mudanças que as placas tectônicas faziam. Trocando de turno, num coro mutuo. Você não sabia que eu havia aquilo em mim. Eu não sabia que você havia aquilo em você. Não queres ouvir a oferta das cores que possuem um acordo? Uma contagem regressiva no que insistia ser distância. Eu sabia que você já tinha dado tudo, e continuavas a me oferecer. Uma erupção. Eu nunca quis voltar ao passado, por mais que ele insistia em aparecer; mas algumas coisas precisam aparecer para que desapareçam e surjam outras novas. Estava envenenado, para um sacrifício de ação. Se eu entendia? O teclado mudava de botões conforme eu mudava o idioma, como iria? Decidi fechar as portas no silêncio e agradecer por algo que deverias fazer. Quando seus olhos deveriam lembrar o começo, quando viste o escuro e as luzes de novo. Um caminho que se tornava uma pedra bruta, polido pelas chamas. Todas aquelas cores. Atrás do que seria uma mente desejada. Deveria eu, poderia eu, iria eu frequentemente prever milagres? Dessa intimidade com a sua liberdade. Não era minha intenção pegá-la, por mais que ela estivesse em minhas mãos. Como um vírus, num frágil organismo quis ladrar como uma chama. Eu entrei em você e descobri seu jogo.  Pacientemente eu esperei voltar. Eu nunca possuo nada, não pretendia que fosse agora. Eu esperava que fosse pedir para que essa história não terminasse e que eu pudesse contá-la no próximo sono. Geralmente eu aguardo para que a correção determine o próximo passo. Às vezes, em alguns momentos, a gente se sente preenchido e andamos de costas para o tempo passar mais devagar.

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