Onde eu estava para chegar ao ponto de se perder
de mim? Já havia me perdido em ruas desertas e estradas que não tinham fim, mas
nunca em labirintos tão vastos. Inventei instrumentos, tive de usá-los para
recriar. Usei corais de vozes para que ecoassem no universo e me trouxessem de
volta alguma resposta. Uma ilha deserta interminável cheia de ancestrais foi o
que achei, antes mesmo que voltasse a dormir. O céu tinha me dito que tudo ao
redor me faria duvidar. O universo não estava nem lá; então veio a luz, o som e
a matéria para que o mundo se tornasse o que conhecemos. Tornou-se cada vez
mais alto e menos audível. Dentro de mim, cristais cresciam e era possível
ouvi-los. Equalizando a generosidade. Subestimando até mesmo o silêncio.
Octógonos, polígonos e cristalizadores de galáxias. Eternos em suas vozes.
Cheios de certezas e barulhos. Atirando em tudo que vinha à sua frente.
Destruidores de rotina. Solitários. Acabando tudo em cinza; defumando os
dormitórios de dentro daquilo que podia se chamar de alma. Sincronizando a
agonia e o medo, por acidente. Com órgãos sendo tocados por mãos que nunca
antes tinham sido tocadas. Estranhamente escolhidas para aquela ocasião. Um
amargor por descer tão fundo. Foi a tragédia de ver no rosto como contava
aquelas histórias de maneira tão própria e tão particular. Uma estátua pronta
para ser destruída se descobrisse a verdade que existia em tudo aquilo. Um
mecanismo para repetir tudo da mesma forma. Conforme as fases fossem passando e
pigmentando o céu com as estrelas. Como se eu já não tivesse visto tudo antes e
não pudesse imaginar como tinha sido feito. Não havia presenciado sua figura,
mas podia desenhá-la mesmo assim. Cheia de curiosidades e manifestações. E
mesmo que eu pudesse deixar ser destruído, eu preferi costurar e manter tudo
escondido, sabendo que você faria questão de desbordar para ver o que havia lá
dentro, o que já na verdade sabias. Eu já havia entendido que era tudo seu.
Queria que eu participasse, mas de forma superficial das mudanças que as placas
tectônicas faziam. Trocando de turno, num coro mutuo. Você não sabia que eu
havia aquilo em mim. Eu não sabia que você havia aquilo em você. Não queres
ouvir a oferta das cores que possuem um acordo? Uma contagem regressiva no que
insistia ser distância. Eu sabia que você já tinha dado tudo, e continuavas a me
oferecer. Uma erupção. Eu nunca quis voltar ao passado, por mais que ele
insistia em aparecer; mas algumas coisas precisam aparecer para que desapareçam
e surjam outras novas. Estava envenenado, para um sacrifício de ação. Se eu
entendia? O teclado mudava de botões conforme eu mudava o idioma, como iria? Decidi
fechar as portas no silêncio e agradecer por algo que deverias fazer. Quando
seus olhos deveriam lembrar o começo, quando viste o escuro e as luzes de novo.
Um caminho que se tornava uma pedra bruta, polido pelas chamas. Todas aquelas
cores. Atrás do que seria uma mente desejada. Deveria eu, poderia eu, iria eu
frequentemente prever milagres? Dessa intimidade com a sua liberdade. Não era
minha intenção pegá-la, por mais que ela estivesse em minhas mãos. Como um
vírus, num frágil organismo quis ladrar como uma chama. Eu entrei em você e
descobri seu jogo. Pacientemente eu
esperei voltar. Eu nunca possuo nada, não pretendia que fosse agora. Eu
esperava que fosse pedir para que essa história não terminasse e que eu pudesse
contá-la no próximo sono. Geralmente eu aguardo para que a correção determine o
próximo passo. Às vezes, em alguns momentos, a gente se sente preenchido e
andamos de costas para o tempo passar mais devagar.
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