quinta-feira, 27 de março de 2014

Oca

 
Adentrávamos um caminho cheio de retornos e pensamentos mundanos com a possível recusa que poderia acontecer. Com o combustível sendo consumido ferozmente. A única coisa que se sabia era do reconhecer a estrada e virar para o lado certo quando chegasse a bifurcação. Era preciso silêncio para chegar e já estavam a nos aguardar. Aquilo tudo já havia sido escrito. O ambiente era propício e eu me sentia bem-vindo. Limpamos nossa energia com o elemento mais líquido disponível. Foi num fechar de olhos que a experiência começou. Era de uma luz violeta tão viva, que se fundiu com correntes azuis, se fazendo descobrir um escravo. De um olho egípcio, fez-se surgir uma mulher que picada por uma cobra encontrava sua morte. Foi então que de uma água verde, feita de plantas, meus braços, meu corpo foi todo limpo. Coisas mais complexas começaram a aparecer. A informação de que a personalidade se dividia em 24 partes, que se dividia em 12, que se dividia em 8, que se dividia em 4, que se dividia em 2 e eram as únicas que se manifestavam na matéria. Preferi não entrar nesse pensamento para que não houvesse limitação ou bloqueio. Quando eu ia sair para outro espaço, decidi voltar. Levantei com aquela sensação imensa de todos os que se faziam presentes ali, em cima do altar e ao redor. Era uma noite propícia para entrega total, mas preferi ficar em mim. E eu tinha que fazer força. Percebi que a melhor maneira seria a dança. Uma vez que pela minha mão, mais precisamente na ponta dos meus dedos, já não circulava quase sangue, tal era o frio que se fazia presente. Vestiste-me como uma santidade, ou um xamã. A sua preocupação para que fosse uma experiência totalmente confortante e marcante era sem dúvida algo que me tocava. Em alguns momentos me sentava perto das imagens, outras ensaiava passos ao redor do círculo de índios vestidos com peles de animais. Enquanto isso observava. A energia se fazia em cada estrela de cada ponto dos meridianos do meu corpo. Não tinha como não sentir aquilo, mesmo sem ter me consagrado. Figuras curiosas surgiam com rituais tão próprios e tão meus naquele momento. Acendeu-se a fogueira e eu decidi ir queimar com ela. Podia sentir as gotas de chuva caindo, que pela primeira vez me fizeram um bem tão particular. Elas eram como parte de mim que caia do céu e se juntavam nas minhas células que já estavam secas. Quando vi que entravas mais fundo naquele mundo tão místico e majestoso, internamente sabia que iria cuidar de você, mesmo que não precisavas. Continuei observador. Pude sentir o quão grande se tornava a cada segundo presente. Quando se fica tanto tempo dentro de si, a introspecção se torna sua amiga. Mas os desafios não acabam quando se encerra. A gratidão não andava sempre comigo, muito menos o abraço. Era como se eu tivesse abrindo uma caixa timidamente, com vergonha de me mostrar tão aberto, disponível. Impressionante como tudo se abre infinitamente se conectando de todas as formas para te mostrar sem propósito nenhum que seus passos estão sendo observados e que forças maiores assistem tua caminhada com felicidade plena. Não foste o único a derramar lamúrias em formas de lágrimas. Um egoísmo estava tão bem abrigado dentro de mim e tão no canto, que era quase impossível de ver que ele poderia ser um ponto tão frágil dentro de um sistema tão grande. Agora é um trabalho constante de informações que saem voando dos meus pensamentos querendo vir à Luz param serem libertos.

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