Ele era apenas um garoto, mas
aprendeu que se soprasse poderia mover as estrelas e mudar seu destino. Não era
preciso muita concentração, pois era uma mente pura. Era sagrado admirar o
divino e quase surreal ter a magia tão à mostra, tão acessível. À noite sempre
banhado pela Lua dizia o que havia sobre todo o universo. Tinha nascido filho
da Terra, junto da mata, com uma tempestade de trovão. Parecia estar vivendo
seu momento mais escuro, todos os demônios estavam saindo e nem se importavam
se era momento ou não. Sempre carregando as culpas em sacolas, tirando de si e
enchendo muitas delas, desfilando como se fosse um privilegio compra-las de
vitrines, ao invés de jogar fora. Se tivesse a chance teria feito tudo de novo.
Afinal era tudo sonho, se vestia de ilusão e ela se tornava sua matéria. Começava a conhecer a limitação e já adorava
impô-las em todos os momentos. Na cascata de seus pensamentos era possível
fazer teias douradas, e mesmo que caíssem todos os véus, nada poderia quebrar
esse bloqueio. Os bolsos todos cheios de pedras, porque se as observasse de
perto, elas eram a manifestação do divino. Olhando de baixo conseguia observar
os medos de cada um, quando por cima as palavras passavam ao seu lado. Parecia
haver uma escolha para salvar a si mesmo, ou submergir ou nunca se deixar ir. Não
se dava bem com a solidão e passava a maior parte do tempo com seres
invisíveis, fazendo-os ocultos de vez em quando para que entrasse na sua
própria sabotagem. Era visível vindo pelos telhados e com nitidez se as janelas
estivessem abertas, até mesmo com os olhos fechados. Não tinha luz, pois ela
era ele mesmo. Tudo aquilo que estava para emergir havia sido destinado, não se
faz um mestre se ele não quiser ser. Não achava que aquilo fosse ser tão
violento. Esperava por uma revelação, mas ela já havia sido feita. Porque
podemos apagar da memória todas as lembranças, mas com elas vão todas as outras
coisas que se acoplam energeticamente a ela, inclusive o aprendizado. Estava
agora reunido ao Todo e sendo grato por apreender de cada uma das suas
extensões manifestadas.
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